Vivendo do Ócio, Rala'e'Rola e Rock'n'Roll
Posted: terça-feira, 11 de janeiro de 2011 by Victor Carvalho in Mesas: Discos, Rock
Em tempos em que Justin Bieber é considerado fenômeno, CDs do Restart e NX Zero são encontrados na sessão de Rock e Luan Santana tem uma das músicas mais ouvidas da rádio, eu perdi a fé no Rock’n’Roll. Não, na verdade, eu perdi a fé na música. Mas é em momentos como esse, cercado de orcs, que você vê Aragorn correr, olhar pra trás e gritar: “por Frodo”. Um grito de esperança. Vivendo do Ócio é esse grito. Vivendo do Ócio é um rock em tons de cinza, não um “rock” colorido. É um rock cheio de raiva, não de lamentações e choradeiras. É Arctic Monkeys em começo de carreira, é Strokes em um dia nublado, é Guns’N’Roses com Axl magro. Tenho pena da geração que acha que rock é uma camisa azul piscina, calça laranja “mamãe-quero-dar” e franjinhas.
Rock’n’Roll é acima de tudo raiva. Rock é raiva porque rock é sexo. A tradução da palavra rock’n’roll significa algo como “rala e rola”. E é exatamente isso que eu falo quando me perguntam o motivo de eu gostar tanto desse estilo musical. “Como um estilo cujo nome significa sexo pode não ser foda?” Sem o perdão do trocadalho. E sexo? Bem, sexo é raiva. Flávio Gikovate, psiquiatra brasileiro (tornado famoso pela novela Passione), dedicou toda sua vida a estudar a relação sexual, desde os anos 70 (de fato, não haveria uma melhor década para estudar isso). Gikovate chegou a uma conclusão bastante interessante: sexo não está ligado ao amor, mas à agressividade. Isso é algo bastante perceptível na linguagem: os mais fortes palavrões possuem conotação sexual. E é exatamente dessa ligação entre sexo e raiva que nasceu o melhor estilo musical de todos os tempos. É um elemento que não pode faltar em nenhuma banda, a raiva, uma raiva praticamente autodestrutiva, raiva do “sistema”, da vida, de uma mulher, de si mesmo ou raiva pela raiva. O que há mais de rock do que ver Ozzy arrancando a cabeça de um morcego ou o Nirvana e o The Who quebrando instrumentos no fim do show?
Vivendo do Ócio é uma banda baiana que veio para resgatar essa raiz do rock. Tudo na música dos caras tem cheiro de rock de verdade: os riffs de guitarra, o baixo, a bateria e a voz despreocupada com a musicalidade exagerada. Canções como “Fora, Mônica”, “Seja Como Quiser” e “Amor em Fúria” possuem versos praticamente impossíveis de sair de sua cabeça e sem ser chiclete. E a raiva? Ah, ela está presente praticamente em todas as músicas, não apenas na instrumentalidade forte, mas em versos como “escuta aqui sua maluca, não vou mais ficar dando uma de otário”, “a culpada é você/me fez de idiota/me acertou pelas costas” e “posso até te dar um soco/acho melhor não/tenho amor às minhas mãos”. O cd demo dos caras não sai do cd-player do carro há quase um mês e nem pretendo parar de ouvir suas 10 músicas tão cedo. Vivendo do Ócio é raiva, é sexo, é rock’n’roll, é a escuridão no fim de um túnel colorido.
eu curto demais Vivendo do Ócio..
eles são o que restou do rock nacional de verdade