Sobre Reanimação de Cadáveres e Como Desanimá-los
Posted: segunda-feira, 7 de junho de 2010 by João. C in Mesas: Ação, Filmes, Jogos, Terror, Trash
Quando eu era pequeno, mãinha costumava me dizer: “Menino! Não assista esses diabo desses filmes de terror, que de noite você não vai conseguir dormir, viu!?”. Terminava descobrindo o quanto ela estava certa quando tinha de dormir sozinho, depois… Preso à cama com minha imaginação demasiadamente fértil pra me deixar pregar os olhos.
O que de forma alguma me impediu de continuar assistindo. Todas as tardes assistindo àquelas historias bizarras sobre aranhas gigantes que destruíam cidades, gases tóxicos e radioatividade reanimando cadáveres, uma meleca rosa devorando pessoas (e faço aqui uma pausa para uma menção honrosa A Bolha Assassina por uma celebre cena em que uma criança se fode tem um fim trágico, contrariando muitas das convenções do cinema). Assim desenvolvi, juntamente a outros desajustados nesse Brasil à fora, um sofisticado gosto pelo tosco e pelo bizarro, pelo estranho, pelo grotesco. O que antes assustava passou a divertir. A escola foi a mesma pra todos nós nascidos entre os anos 80 e 90: a sessão Cine Trash pela Rede Bandeirantes. Professor José Mojica Marins (a.k.a. Zé do Caixão) conduzia a classe. Lá conheci o que havia de melhor no gênero, entre eles Romero.
George A. Romero. O mestre dos filmes de mortos-vivos. Autor de clássicos como os A Noite dos Mortos-Vivos, Dia dos Mortos ou o Despertar dos Mortos (que originou o igualmente fantástico remake Madrugada dos Mortos), Romero reviveu o gênero de filmes de zumbis, nos anos 60 e 70 e o manteve bem morto-vivo até 93 quando pausou suas produções. Seus filmes, bem carregados de emoções como pavor, desespero e angustia marcaram por tratar as irreais situações que tratavam seus filmes de maneira real, trabalhando bem as reações humanas em seus personagens. Pena que o trash tomou um rumo muito mais comercial em tempos mais recentes, apelando para a violência mais que desnecessária e outros recursos baratos... ou caros! Afinal, o orçamento desse tipo de produção cresceu astronomicamente e hoje são produzidos trashes milionários! Ainda bem que existem os Remakes e os Revivals pra trazer de volta o gostinho das delícias do passado.
Pegue por exemplo Rodriguez e Tarantino, com o magnífico tributo ao cinema de baixo orçamento, Grindhouse. Me senti um menininho, de novo ao assistir Planeta Terror, rindo descontroladamente, junto ao meu irmão igualmente excêntrico, das situações bizarras que os personagens encontram e das soluções ainda mais psicodélicas que Tarantino e Rodriguez dão a elas ( afinal, minha gente, que porra é aquela que acontece quando os sobreviventes chegam até a casa e se preparam para fugir? Genial a quebrada que dá o rolo de filme queimando!). Sem contar as brincadeiras que eles fazem do começo ao fim, em Planeta Terror e A Prova de Morte, como por exemplo os Trailers fakes que são passados antes dos filmes(Um deles, por sinal, vai virar um longa com com previsão de lançamento por este ano. Link para o trailer). Simplesmente fantástico! Ao mesmo tempo nostálgico e moderno.
E foi nesse embalo de nostalgia que joguei Left 4 Dead/Left 4 Dead 2. Outro tributo à nossa infância demente, explorando a temática de Apocalipse Zumbi ao melhor estilo Romero. O primeiro jogo conta a historia de quatro sobreviventes de um Apocalipse Zumbi, causado por uma infecção de origem desconhecida, que desafiam a constantemente a morte durante o caminho de sua fuga. Pretexto básico para a uma fantástica experiência de jogo, de tiroteios constantes contra hordas de zumbis sem mentes incapazes de pensar duas vezes antes de se atirar violentamente contra a morte gélida provocadas por suas balas. Não que o Left 4 Dead 2 seja muito diferente disso para o primeiro merecer uma diferenciação, só mudam mesmo os personagens e os cenários, mas a premissa é a mesma (e pra que mudar mais que isso?)...
Enfim. O importante aqui é matar. Matar, matar e matar. Os mortos povoam o mundo dos vivos e mandá-los de volta ao dos mortos é o melhor a se fazer por eles. E acreditem, eles são muitos! A cada virada de corredor dezenas de milhares aparecem para te impedir de seguir em frente. E assim se contextualiza o tiroteio constante em Left 4 Dead.
A jogabilidade já é meio manjada. FPS básico no estilo clássico dos jogos da Id Software, como Quake, Doom, Wolfstein e por aí vai. Shooter nu e cru, sem aquelas frescuras de outros mais táticos ou mais modernos, como fazer mira de precisão, mudanças de jogabilidade quando o personagem se esconde atrás de alguma cobertura, controles avançados de esquadra e essa porra toda que todo mundo já conhece. A única adição mais audaciosa nos controles básicos em relação aos shooters da Valve foi o ataque corpo-a-corpo com qualquer arma, que também não é novidade nenhuma. (Espaço pra comentar a existência das armas exclusivamente corpo-a-corpo do L4D2, como a frigideira, a guitarra, a katana e a peixeira).
Novidade no estilo é o pensamento cooperativo. Seja jogando sozinho ou em grupo a campanha é toda pensada para quatro heróis, mesmo que eles sejam IA. A sobrevivência está intrinsecamente relacionada à capacidade do jogador de pensar coletivamente. Não há espaço para heróis suicidas aqui, sobretudo nos níveis de dificuldade mais extremos. Juntos, os quatro personagens têm diversas campanhas diferentes para seguir. No primeiro jogo existem cinco campanhas diferentes, que pouco se relacionam entre si, enquanto que no L4D2, as campanhas oferecidas seguem uma ordem cronológica precisa. Além do modo campanha os jogos oferecem diversos outros modos de jogo, todos eles direcionados para o jogo multiplayer, ainda mais intensos que a campanha solo ou cooperativa.
Recomendo a todos uma partida desse shooter maravilhoso, especialmente àqueles que compartilharam desse nosso referencial torto que é o cinema de terror B.
Manolo , Gostei mtooo Dessa Matéria .... Pois sou fan de carteirinha de Filmes , jogos , coisa enfim ... Tudo sobre Terror !