Porque hay cosas que nunca se olvidan
Posted: sexta-feira, 28 de janeiro de 2011 by Victor Carvalho in Mesas: Comédias, CurtasQuase 300 prêmios em festivais. Entrada para o livro do Guinness. Isso todo mundo já sabe. Nas últimas semanas, é só o que se fala. O filme de Lucas Figueroa, rodado em Segóvia, na Espanha, e ambientado em Nápoles, na Itália, nos anos 50. Mas por que tanto furor por esse curta? Curta. Esse foi o ponto que mais me interessou. Avatar precisou de 20 anos de produção e mais de 2h de filme para ganhar menos de uma centena de prêmios. E O Vento Levou precisou de 233min para emocionar platéias e virar lenda. Interessante como grandiosidade não é nada. É justamente nas pequenas coisas da vida, nos pequenos detalhes que existe a genialidade, a poesia, o humor. Pequenas coisas da vida. Isso me faz lembrar do filme Up. Genialidade. Foi uma experiência interessante assistir Up no cinema. Um pouco mais de 4min. Foi tudo que o filme precisou para fazer uma sala com mais de duas centenas de pessoas chorarem. Um pouco mais de 4min e absolutamente nenhuma fala. Pura poesia. Pequena. Em versos. Emocionante. Nada de uma prosa chata como isso aqui. Que demora pra convencer. Poesia não precisa de muita coisa. Só alguns versos, palavras simples. Ou 4min sem falas sobre o maior épico do ser humano: a vida. O filme me ganhou ali. Ele poderia ser um completo desastre depois, mas aqueles míseros minutos valeram o absurdamente caro ingresso do cinema. E é justamente nesse momento que você entende que as grandes coisas da vida, por mais paradoxal que isso seja, elas são, em verdade, pequenas. E talvez por isso, como uma poesia de 2 estrofes, ela se torna una cosa que nunca se olvida.
Si, si, hay cosas que nunca se olvidan. Lucas Figueroa precisou de um pouco mais de 13min para criar uma dessas coisas. O centro do filme é o humor negro. Ah, e como eu adoro o humor negro, o politicamente incorreto. Podem me crucificar por isso. Eu realmente não me importo. Mas sim, sim, não vamos mudar de assunto de novo. O filme. Ele é a história de alguns garotos. Eles estão jogando bola e um deles a chuta tão longe que acaba por parar no jardim de uma, como dito no filme, em italiano, uma vecchia. Aposto que isso já aconteceu com muita gente. Então, foram os garotos pedirem à senhora vecchia para devolver a bola, que um deles levou um ano juntando dinheiro para comprar. Em um último gesto de maldade, a velhinha finge que irá devolver, dá um sorriso vilão-de-desenho-animado e... fura a bola. Porque hay cosas que nunca se olvidan. Esse é o momento que vai definir a vida daqueles garotos. Não precisou de uma casa de correção para jovens e guardas malignos como em Sleepers (Vingança Adormecida) ou mesmo um carro com caras maus como em Mystic River (Sobre Meninos e Lobos). Apenas uma vecchia e uma bola. E no melhor estilo Coiote eles preparam a vingança.
Interessante como alguns momentos podem definir sua vida inteira. Seja o roubo de um carrinho de cachorro quente ou uma velhinha pior que o filho do Darth Vader com a Miranda Priestly. Hay cosas que nunca se olvidan. E elas marcam sua vida. No fim do curta, aparecem Cannavaro e Carboni. E adivinha? Ele ainda manda a bola para longe do gol. Seria ainda mais humor negro se no lugar dele fosse Baggio. Uma piada ainda mais risível para nós, brasileiros. E tudo isso em 13min. Acho que é essa a diferença entre bons lutadores e campeões. Os bons lutadores usam todos os rounds. Os campeões nocauteiam logo nos primeiros. Isso me lembra o concorrente ao Oscar The Fighter (O Vencedor), mas isso é assunto para outra conversa. Poesia e prosa. Talvez seja por isso que eu precise de todas essas linhas para provar um ponto, já Mário Quintana:
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Link do Youtube
perfeito, o post!
sobre a diferença entre campeões e bons lutadores, ainda me lembrei a obra do mestre clint, million dollar baby! maggie (personagem de hilary swank) só sabia ganhar no 1º round, o que irritava frankie (o "boss"...)