Plastic Bag, a saga do saco.
Posted: terça-feira, 15 de junho de 2010 by Victor Carvalho in Mesas: CurtasQuem me conhece, sabe que eu não sou nem um pouco politicamente correto e muito menos ambientalista. Estou mais para um partidário do genial comediante George Carlin: "The planet is fine... people are fucked [...]. The planet's been through a lot [...] and we think some plastic bags [...] are going to make a diference? [...] The Universe wanted plastic! Didn't know how to make it. Needed us" ("O planeta está bem... as pessoas é que estão lenhadas [...]. O planeta passou por muita coisa [...] e nós pensamos que alguns sacos plásticos [...] vão fazer a diferença? [...] O Universo queria plástico! Não sabia como fazer. Precisou de nós"). Mas sabe qual o problema principal da maioria dos que se dizem ambientalistas? Eles são como fanáticos religiosos: ou você está do lado deles ou... vai para o inferno. E nesse caso, o inferno é seu planeta daqui a alguns anos. Ainda bem que nem todos os ambientalistas são assim, conheço alguns que percebem que essa escolha parte de cada um e apenas de cada um. Você não é "do mal" só porque você não dá a mínima para o meio ambiente, assim como você também não é um idiota porque se importa com o planeta. Cada um vive a sua vida da forma que achar melhor. Se você acha que é bom reciclar coisas, por exemplo, ótimo. Mas se não se importa ou não gosta, ótimo também. Sempre há pessoas que não se importam.
Agora, por que toda essa introdução? Porque esse curta de Ramin Bahrani vai exatamente nesse sentido. O genial filme é a saga existencial de um saco plástico narrada pelo cineasta alemão Werner Herzog. Plastic Bag é uma espécie de Wall-E para adultos. O saco fica o tempo inteiro à procura do seu criador, uma mulher que o pegou em um supermercado e depois o jogou fora. É simplesmente uma das coisas mais geniais que eu já vi ultimamente. O curta não diz que você é um porco destruidor do Universo porque usa sacos plásticos e nem tenta convencer você a cuidar melhor do meio ambiente, mas mostra o simples fato do que acontece com um saco plástico depois que você pega ele no supermercado. O resultado, a conclusão é puramente sua. Nenhum drama sobre a destruição do mundo (como o péssimo filme 2012 faz)... o impacto ambiental causado por milhares de sacos plásticos é meramente sugerido. A idéia de que ele não deveria pertencer àquele lugar, que ele não deveria existir, também é apenas sugerida ("I wonder where those little pieces are now" - "Me pergunto onde aqueles pedacinhos estão agora").
O toque especial do filme está na personificação extrema da personagem principal. Poesia pura. Coisas que só um talento enorme consegue criar. À medida que os 18min. vão passando e você vai acompanhando o saco plástico e a sua voz interpretada monotonamente por Herzog, você vai se compadecendo, ficando com pena e até mesmo torcendo... por um saco! Não há qualquer animação, nada. As tomadas são puramente de um plástico preso ou voando por diferentes paisagens. É como o poeta Manoel de Barros uma vez disse: "é no ínfimo que vejo a exuberância". Não haveria frase melhor para descrever o sentimento que esse curta provoca nas pessoas. Impressionante como você consegue se identificar com a saga dele em busca do "criador". É quase como a clássica busca humana por deus, por um criador, por um sentido na vida. E é isso que o saco busca durante todo curta ao procurar seu criador, no íntimo essa é sua verdadeira vontade: um sentido em sua vida, em sua existência. Existir realmente vale a pena sem seu criador? Em 18min. e com um saco plástico apenas, Bahrani consegue atingir um nível de sensibilidade que a maioria dos cineastas não conseguem hoje em dia com mais de 2h e atores sensacionais.
O filme já está causando sensação por onde passa. Ele é parte do Projeto Futurestates, que é uma séries de 11 curtas ficcionais que se propõem a mostrar o futuro pela visão da realidade global atual. Basicamente, é a visão do futuro de cada cineasta. Ramin Bahrani sabe como ser consciente sem ser chato e como fazer poesia com pouco ou quase nada. Vai ser impossível você olhar para aquele saco do Bompreço da mesma forma depois. Mais uma vez citando Manoel de Barros: "O sentido normal das palavras não faz bem ao poema". E nem o das imagens a um pequeno grande filme.
Ps.: infelizmente, não consegui achar nenhuma versão com legendas em português, apenas em espanhol (em link separado).
O toque especial do filme está na personificação extrema da personagem principal. Poesia pura. Coisas que só um talento enorme consegue criar. À medida que os 18min. vão passando e você vai acompanhando o saco plástico e a sua voz interpretada monotonamente por Herzog, você vai se compadecendo, ficando com pena e até mesmo torcendo... por um saco! Não há qualquer animação, nada. As tomadas são puramente de um plástico preso ou voando por diferentes paisagens. É como o poeta Manoel de Barros uma vez disse: "é no ínfimo que vejo a exuberância". Não haveria frase melhor para descrever o sentimento que esse curta provoca nas pessoas. Impressionante como você consegue se identificar com a saga dele em busca do "criador". É quase como a clássica busca humana por deus, por um criador, por um sentido na vida. E é isso que o saco busca durante todo curta ao procurar seu criador, no íntimo essa é sua verdadeira vontade: um sentido em sua vida, em sua existência. Existir realmente vale a pena sem seu criador? Em 18min. e com um saco plástico apenas, Bahrani consegue atingir um nível de sensibilidade que a maioria dos cineastas não conseguem hoje em dia com mais de 2h e atores sensacionais.
O filme já está causando sensação por onde passa. Ele é parte do Projeto Futurestates, que é uma séries de 11 curtas ficcionais que se propõem a mostrar o futuro pela visão da realidade global atual. Basicamente, é a visão do futuro de cada cineasta. Ramin Bahrani sabe como ser consciente sem ser chato e como fazer poesia com pouco ou quase nada. Vai ser impossível você olhar para aquele saco do Bompreço da mesma forma depois. Mais uma vez citando Manoel de Barros: "O sentido normal das palavras não faz bem ao poema". E nem o das imagens a um pequeno grande filme.
Ps.: infelizmente, não consegui achar nenhuma versão com legendas em português, apenas em espanhol (em link separado).
Você já viu 'Beleza Americana' ?