Voltando a essa cerveja, e voltando cheio de dívidas. Até a minha mãe eu to devendo dinheiro... tá foda. E pra começar a pagar minha dívida, começo minhas postagens do ano falando do tema que eu fiquei devendo: Jogos Indie.
A pergunta é: que banana são os Jogos Indie? Acho inclusive que já respondemos a essa pergunta nos tópicos de Home Run in Berzerk Land e Braid. Indie Games são jogos independentes, desenvolvidos por estúdios livres das restrições das publicadoras. Exemplos de jogos assim não faltam, e o mercado desse tipo de jogo só faz crescer. Vide o Steam e a XBLA
Mas o que os torna diferentes do outros jogos? Bem... para responder a essa pergunta, falaremos primeiro dos outros. Os que acompanham o mundo dos games, e não apenas tem um ps2 pra jogar Winning Eleven com os amigos enquanto tomam umas cervejas, sabe o que tem acontecido com os outros jogos, os jogos de publicadoras. Por que Nerd de verdade é assim: acompanha a porra até o fim. Não larga o Video Game de lado.
Derivação. Você passa meses ansioso pra jogar aquele novo Call of Duty 16 Modern Warfare 9 Star Wars Crossover: Revenge of the Sith, que vai ser o jogo mais revolucionário do ano, apenas para descobrir, após o lançamento que ele é exatamente igual aos outros 15 antecessores. Até aquele velho inglês bigodudo é o mesmo. Eis que surge, então, o cenário Indie, para oferecer uma alternativa.
Livres das restrições das publicadoras, os desenvolvedores podem experimentar livremente, e produzir fora dos padrões já estabelecidos e “comprovados” e martelados e re-martelados em cima de nós gamers ano após anos, pelas publicadoras. Assim surgem jogos novos, com jogabilidades novas, estéticas novas.
Eu não agüento mais o modelo de produção “se meus gráficos são impressionantes, meu jogo é bom”. Algum de vocês agüenta? Eu sinto saudade dá época em que todo jogo que eu jogava era uma experiência nova, mesmo entre os jogos de publicadoras. Quando jogar Resident Evil era jogar Resident Evil, ou jogar Call of Duty era jogar Call of Duty. E nos jogos indie eu reencontrei essa sensação de novidade, e me apaixonei.
Lembro que o ultimo jogo de terror de verdade que eu havia jogado foi Silent Hill. Não o 4. O primeiro, de 1999, no PSX. Me caguei de medo. Não que os outros sejam ruims. O 4 só não é Silent Hill, e os outros dois, apesar de sensacionais, não foram os primeiros. Não me fizeram me cagar de medo tanto quanto o primeiro. E assim foi, até que saiu Amnesia: The Dark Descent. Depois de anos, sem saber o que era ter medo jogando, eu vivi uma das experiências mais aterrorizantes de minha vida, sentado em frente ao PC.
Amnesia é um Adventure moderno em primeira pessoa, com puzzles completamente baseados em mecânicas de física, assim como seuS antecessores: a série Penumbra. Ao contrário, porém, da maior parte do jogos de terror, Amnesia não é sobre matar monstros. Aliás, amnésia quase não é sobre monstros (apesar deles existirem e fazerem o diabo com sua cabeça), nem sobre matar. Aliás, até é sobre matar, mas é sobre matar uma única pessoa. E mesmo contrariando tudo o que nós aceitamos como jogos de terror, Amnesia destrói você, e te coloca no seu devido lugar, seu verme insignificante.
O jogo te coloca no papel de Daniel. Daniel, não é ninguém. Não ainda. O jogo inicia com você (Daniel) vagando pelos corredores de um castelo e repetindo para si: “Você é Daniel, não pode se esquecer disso. Eu sou Daniel, você é Daniel, não se esqueça...”. Logo em seguida, você acorda numa pequena sala, mal iluminada e cheia de destroços. E a partir daí deve seguir de volta pelos corredores por onde veio. Ao fim do caminho, você encontra uma carta destinada a você (Daniel) e escrita por você (Daniel), antes de perder a memória. Nela você explica que sua perda de memória foi intencional, e visava a sua preservação, e que de agora em diante seu objetivo deverá ser matar Alexander, o homem responsável por muitos dos males que te afligem. No entanto, você deve tomar cuidado, pois “sombras” te perseguem, e nada pode ser feito para impedi-las, exceto fugir.
A partir daí o jogo começa de verdade, e você deve explorar o castelo atrás de Alexander, para matá-lo. O perigo existe, e monstros te perseguem ao longo do caminho. Não há armas capazes de matá-los e sua única saída é fugir e se esconder. Encará-los pode te levar a loucura, assim como o escuro, eventos sobrenaturais, perseguições e cenas bizarras.
O jogo adota uma postura lovecraftiana, frente ao terror. A de impotência. Você é um ser humano normal, Daniel, cheio de medos e fraquezas. Você é impotente e é essa a idéia que Amnesia te passa. Sua única arma contra a loucura é a luz, e ela é uma arma escassa. Saber onde usar a luz para iluminar os corredores certos, ou as salas corretas, onde você poderá se esconder e sentir o mínimo de segurança é fundamental. Ela também é uma faca de dois gumes, pois te torna visível aos seus perseguidores, e eles não são pessoas legais. Durante todo o percurso do jogo você poderá escutá-los vagando pelo castelo, suas correntes sendo arrastadas, seus urros furiosos te perseguindo, mas você nunca sabe de qual corredor ele virá, isso se ele vir. Às vezes ele passa por você e entra num corredor sem saída, para você descobrir, se tentar segui-lo, que ele sumiu no corredor onde está a chave que você precisa pra sair da adega, apenas para encontrá-lo na volta, na mesma sala onde você estava quando o viu passar.
Amnesia te prega muitas peças. Me pregou diversas. Monstros que te surpreendem, objetos que aparecem e desaparecem livremente, fugas de monstros atrozes, cujo as caras eu até hoje não conheço. 14 horas de pura borração de calças.
Ao longo do caminho você encontrará pedaços de seu diário, juntamente com alguns outros textos, que te ajudarão a entender a história do jogo (e sem spoiler dessa vez). E devo dizer, que apesar de um pouco clichê, ela é transmitida de jeito maestral. Pra quem leu e gostou do Drácula de Bram Stoker, Amnesia é um prato cheio.
A jogabilidade de Amnesia também é muito interessante. O jogo a principio parece um FPS, mas logo as diferenças ficam bem claras. Não há armas. O único objeto que carregará em frente ao rosto é uma lamparina, que em muitas vezes precisará ser guardada para economizar o óleo. Objetos podem ser movidos livremente. Você pode carregar, empurrar, arremessar e puxar e mover qualquer coisa que você tenha força para fazê-lo. Portas de armário podem ser abertas livremente, e o sistema pelo qual as portas e janelas são abertas, e os objetos são movidos é bastante imersivo. Basta clicar sobre o objeto e movê-lo com o mouse.
Amnesia não é o único exemplo de jogo independente, mas assim como outros, ele mostra do melhor que o meio Indie pode oferecer, e pretendo trazer outros exemplos a altura para esta mesa com a sessão "Sobre a forma Indie de se fazer jogos:". Por enquanto é isso. Para os que se interessaram pelo jogo, ele está disponível para compra pelo Steam e outras lojas online de games por algo não mais caro do que R$ 30, R$ 35 (USD 19,90 ou menos. Eu paguei USD 5,00 numa promoção do Steam). E para os que quiserem saber mais sobre o jogo e o desenvolvimento, eu recomendo o blog dos desenvolvedores, onde eles comentam diversos aspectos da produção desse e de outros jogos (como a série Penumbra, igualmente formidável).
Abraços a todos e até a próxima.
Tem um tiquinho de nada meu aí nessa história. =D