Vinícius, como encontrar a beleza da mulher?

Posted: terça-feira, 8 de março de 2011 by Victor Carvalho in Mesas:
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Vinícius é um excelente documentário sobre este que foi um dos maiores poetas do Brasil. Falo de Vinícius sem querer falar de Vinícius. Aqui uso Vinícius não para falar dele, mas para falar do objeto de boa parte de sua obra: as mulheres. Vinícius de Moraes, o homem que mais entendia de mulher nesse mundo. Ele as entendia porque ele as contemplava. Há quem diga que ele era machista. Esses não entendem a verdadeira alma do poeta. Vinícius nunca foi machista, muito pelo contrário. Mas Vinícius, talvez por tanto amar as mulheres, ele, acima de amar uma mulher, amou a mulher. E aqui eu peço desculpas. Desculpas pois vou falar de mulher em prosa. Sim, uma heresia, concordo. Não há que se falar em mulher se não em verso. Dizendo muito com poucas palavras. Mas acima do verso e da prosa, mulher é poesia. Então, além das desculpas, te peço mais uma coisa: encontre a poesia em minhas palavras. E talvez, meio a essa poesia, você encontre a beleza da mulher.

Mulheres, vocês nunca conseguirão se entender. É impossível entender uma mulher de dentro. Para isso é preciso, como Vinícius, estar fora. Mas apenas estar fora não basta. Deve-se estar fora e contemplá-las, amá-las, tê-las e não tê-las. Sofrer por estar sem ela, sofrer por estar com ela. E nesse sofrimento descobrir a felicidade, a beleza. Sim, a beleza. A beleza da mulher-violão, da mulher-violoncelo, da mulher-bandolim, da mulher de aquário, de peixes e de áries. “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Não me entendam errado quando falo de beleza. Quando disso falo, não falo de padrões. Não falo de loiras, morenas, ruivas (ah, as loiras, morenas e ruivas...). Não falo de seios fartos ou bundas perfeitas (ah, os seios fartos e bundas perfeitas...). A beleza feminina não está apenas aí. A beleza feminina também está no olhar (ah, o olhar...). “Os olhos, que sejam de preferencia grandes e de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão que é preciso ultrapassar”. Falo também do sorriso (ah, o sorriso...). Sou bobo da corte, príncipe encantado ou cavaleiro negro para ver esse sorriso. Meu tempo não é contado em minutos, horas ou dias, mas na quantidade de vezes em que vejo o raiar desse sorriso. Não posso deixar de concordar com Vinícius. Mulher perfeita é a mulher-violão.

Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado — contra o peito — lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.

Uma Mulher Chamada Guitarra

Não importa se apenas uma mulher ou várias, toque-a com paixão. Tocar o corpo de uma mulher sem paixão, seja por uma mulher ou pela mulher, é o mais vil dos crimes. A mulher precisa de paixão para ser tocada, exatamente como uma guitarra ou um violão. De aço, de nylon, elétrico, acústico, semi-acústico, cada uma tem seu timbre. Apenas aquele que verdadeiramente toca uma mulher consegue dela tirar seu timbre único, consegue nela encontrar sua beleza. Toque-a com paixão, pois paixão é o que separa os grandes guitarristas dos músicos de boteco. Toque seu corpo e tocando seu corpo descubra sua alma. Cada detalhe, cada ponto, cada nota. E das notas, os acordes. E dos acordes, a canção. E da canção, na canção, a poesia. Triste é o homem que nunca tirou a poesia de uma mulher. Triste é a mulher que nunca encontrou seu poeta. “Dentro dos meus braços/ Os abraços hão de ser milhões de abraços/ Apertado assim, colado assim, calado assim”.

Que a mulher seja em princípio alta ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos, ao abri-los ela não estará mais presente com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá. E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber o fel da dúvida. Oh, sobretudo que ela não perca nunca, não importa em que mundo, não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade de pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre o impossível perfume; e destile sempre o embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina do efêmero; e em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.

Receita de Mulher

3 comentários:

  1. Vicente says:

    Ah! Seu miserável! O texto ficou ótimo! Miserável, sim! Por falar desse jeito sobre mulheres. E por fazer lembrar que nessa vida, é a minha maior paixão: mulher. Avivou minha mente, meu peu e minhas ousadias na lembrança de muitas mulheres, de uma única, e de todas. Parabéns! Ótimo texto!

  1. Unknown says:

    Vi a tirinha em parceria no site do Ruim com elas e resolvi entrar no blog. "Um blog com 'cerveja' no nome? Ah, deve ser interessante! hehehe". E aí que encontro o post sobre Vinícius. Pronto, já tens espaço cativo nos meu favoritos! :P
    Ótimo post! O documentário é muito bom! Enfim, Vinícius é Vinícius!

    Parabéns!

  1. Diria Schleiermacher:

    "Sim, se há qualquer coisa de verdadeiro na fórmula segundo a qual a mais alta completude da interpretação consistiria em compreender um autor melhor do que ele de si mesmo pode dar conta, então, certamente não se poderia querer dizer senão isso"!

    Poeta victor, um texto de alma grande.

    No mais, um complemento...sobre o "dedilhar do(no?) mulherio"...
    "a música é na verdade o silêncio entre as notas musicais"!

    hiaihiuhaiua

    Abração,

    Fred

Nota

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