Kick-Ass

Posted: sábado, 5 de junho de 2010 by Victor Carvalho in Mesas:
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Não, não é o filme. É da história em quadrinhos que vou falar aqui. Resolvi começar a ler depois de saber que iria ser lançado o filme. Gosto sempre de ver o original antes da adaptação. Comecei a ler o primeiro volume sem pretensão alguma, só para ver como era mesmo. E simplesmente não consegui parar até terminar todos os 8 volumes do primeiro livro. Segundo Mark Millar (um dos criadores, junto com John Romita Jr.), a série em quadrinhos vai ser composta por 3 livros (o primeiro é o único que já foi lançado e é no qual se baseia o filme). Com certeza, teremos também uma trilogia no cinema, já que tudo vem em 3 ultimamente e o filme está fazendo um enorme sucesso. Mark Millar é escocês e bastante famoso entre quem acompanha histórias em quadrinhos, ele já escreve séries para a Marvel há um bom tempo. Foi ele quem criou a série Wanted, que gerou o filme com Angelina Jolie de mesmo nome (batizado aqui no Brasil como O Procurado).

Talvez o que eu tenha mais gostado na HQ é a falta de pudor. Esse pudor estraga muitas das histórias que estão por aí. Na verdade, não é só o pudor, mas a vontade desenfreada de lucrar mais e mais. O que acontece é que para diminuir a "censura" das HQs, filmes e séries, seus criadores tentam ao máximo infantilizá-las. Tira-se o sangue, tira-se o sexo e aí chegamos ao absurdo de uma história de vampiros sem sangue e sexo, por exemplo (o que é inconcebível para quem viveu assistindo à coisas como Drácula de Bram Stoker e Entrevista com o Vampiro). Sério, quem gosta de ver um filme de guerra em que nem mesmo um gotinha de sangue é derramada? Eu, sinceramente, acho muito estranho um cara ser cortado por uma espada ou levar um tiro e não sair nem um pouco de sangue. O que vemos em Kick-Ass é o exato contrário disso tudo. Como seus autores falam na capa da segunda edição: "Violência doentia: bem do jeito que você gosta". E sim, a revista é violenta, como deve ser. Sangue para todo o lado, braços e pernas cortadas, dentes quebrados... Violência gratuita? Eu diria que não, a história, como em Clube da Luta (Fight Club), é simplesmente impossível de ser contada com o mesmo impacto sem toda a violência. Ela não está ali por estar, possui todo um contexto, uma ambientação dentro da filosofia da própria história: super-heróis não sangram, não matam, mas pessoas de carne e osso sim.

Mas a história vai além das lutas cinematográficas, da violência extensa e das cenas de mulheres nuas e sexo. O ponto principal da história somos nós: seres humanos normais e chatos, vivendo nossas vidinhas normais e chatas. Nosso herói é o perfeito homem-médio, ou eu diria adolescente-médio. Ele não é o mais nerd da sala, nem o mais descolado, gosta de uma garota bonita da sala, tem uma queda pela professora gostosa (com o perdão dos ouvidos mais sensíveis... ou não) e tem um fiel grupo de amigos...  Nada de extraordinário. Assim como eu, assim como você. Como nosso protagonista diz logo no começo:
O dia-a-dia normal é tão excitante assim? As escolas e escritórios são realmente tão emocionantes a ponto de eu ser o único a fantasiar sobre isso? Vamos, seja honesto consigo mesmo: todos nós planejamos ser um super-herói em algum momento de nossas vidas. 

E nesse ponto a revista me lembra mais uma vez o clássico Clube da Luta. O protagonista é como se fosse ninguém menos que o "narrador-sem-nome" com um Tyler Durden vivendo dentro dele. A prova de que esse escapismo engloba toda a narrativa está quando a mania-herói se espalha por todo o mundo, com pessoas normais se vestindo de heróis. É a prova de que estão todos cansados desse mundo igual e preto e branco em que estamos, desse dia-a-dia chato e arrastado. No fundo, todos queremos um pouco mais de emoção.  Por mais que seu personagem principal tente largar o uniforme e desistir frente às dificuldades de sua escolha (ele quase morre algumas vezes), a vontade de ter um sentido em sua vida é mais forte. Esse inconformismo é a raiz de Kick-Ass e você vai ter total certeza disso quando chegar ao final da história. In the end, we all want to kick some asses.


Link do Youtube / Infelizmente não achei uma entrevista legendada.

7 comentários:

  1. Davi says:

    Vitão, muito bom o blog! Parabéns! Agora, me esclareça uma coisa: o Nicolas Cage faz papel de um herói que satiriza o Batman? Huahauahaua

    Aviso: Vou tentar atualizar meu blog todos os sábados,como fiz ontem( d2v1.blogspot.com/2010/06/borboleta.html ).

    Eu acho que a gente poderia procurar mais pessoas que escrevem sobre cultura, literatura, filmes, séries, etc... e fazer um blog a vinte mãos pelo menos.

    O que você acha? Abraço!

  1. Rapaz... eu ainda não vi o filme, mas o personagem Big Daddy na revista não tem muita ligação com o Batman não.

  1. Anônimo says:

    Muito bom teu site.
    com cerveja então, melhor ainda!!

    keep the good job...

  1. Brena. says:

    "Mas a história vai além das lutas cinematográficas, da violência extensa e das cenas de mulheres nuas e sexo. "


    Sim, e oq mais é preciso pra deter sua atenção alem disso?


































    Ah sim!!! Lesbicas e zumbis!!

  1. Lucas M. says:

    Os únicos contras que eu achei no filme foi pegar um ator com muita cara de "nerd" (e interpretar como qual), e não um cara mais "normal" como é nos quadrinhos. E também a atriz da Hit Girl ser MUITO nova(e com cara de muito nova), o que tira bastante a realidade da coisa(mesmo sendo a idade certa nos quadrinhos), mas pra compensar isso a atuação dela foi FODA DEMAIS, na sua ultima luta dava pra ver o desespero da atriz.

  1. Anônimo says:

    "Mas a história vai além das lutas cinematográficas, da violência extensa e das cenas de mulheres nuas e sexo. "
    Sim, e oq mais é preciso pra deter sua atenção alem disso?"

    No caso do filme uma direção descente.

  1. Artur Barz says:

    Os pudores distorcem em muito as historias...Como um espelho com vidro quebrado, o pudor nao reflete com fidelidade a historia.

    Tirando o sangue, putaria, coisas inerentes a nossa existencia, o resultado realmente sao vampiros decadentes.

Nota

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