/afk e a pílula azul para Pasárgada

Posted: domingo, 6 de fevereiro de 2011 by Victor Carvalho in Mesas:
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/afk. Away From Keyboard. Em uma tradução literal: longe do teclado. Como dito no curta: “de alguma forma distraído pela sua vida real”. Vamos imaginar um pouco. Você está fazendo alguma coisa de que gosta. Está... vejamos... vamos começar pelo mais simples: você está lendo um livro muito bom. Não, não. Algo mais atual. Você está lendo um blog muito bom... esse blog. Alguém aparece na sala e faz uma pergunta qualquer. Boom. /afk. A pessoa tenta fazer small talk e pergunta o motivo de você gostar tanto de ler. Sem paciência, aquele velho clichê vem à sua mente: “porque quando eu leio, eu viajo”. É, um viciado em drogas também... Droga (trocadilho), odeio esse bordão. Mas tudo bem, vamos nos prender a ele um pouco. Escapismo. Eu já pincelei um pouco sobre isso quando falei aqui sobre Kick-Ass. Desde sempre o homem procura uma forma de sair da realidade. Afinal, existe até mesmo um movimento literário inteiro só sobre isso. Fuga da realidade. Livros, drogas, filmes, jogos, teatro, música, a cervejinha do final de semana... esse blog inteiro é sobre isso e é isso. Mas o que é realidade? Não, sério. Essa não é uma daquelas perguntas que eu faço aqui só para parecer inteligente, do tipo “o que é esse copo verde”? Uma resposta pseudo-científica seria algo mais como: aquilo perceptível pelos seus sentidos. Bem, eu sou mais poético. E para isso vou citar um... cientista, Albert Einstein: “a realidade é apenas uma ilusão, ainda que muito persistente”.

Esse é um tema bem batido já. Mas já que estamos falando de um curta-metragem, vamos falar de filmes. Comecemos pelo óbvio: Matrix. Talvez o melhor filme a falar sobre realidade? Bem, talvez. E se Neo tivesse tomado a pílula azul? /afk? Talvez não. A pílula vermelha foi justamente o que o fez sair de um teclado... para outro. O curta fala sobre um jogador de World of Warcraft (WoW). O maior RPG online da história. E também o mais viciante, pode acreditar. Eu li em algum lugar que WoW é o crack dos vídeo-games. Funciona parecido: não é tão caro e apenas uma jogada é o bastante para te fazer querer mais. Ah, e os caras da Blizzard (desenvolvedora do game) funcionam exatamente como aqueles caras que vendem maconha para adolescentes do segundo grau. Sim, você tem 10 dias grátis para jogar. Depois você tem que pagar. O personagem do curta é extremamente viciado nesse jogo. Para sair disso, ele procura uma psicóloga. O cara é um ótimo estereótipo: gordo, sem muita vida social, sem namorada. Não é nem um pouco difícil entender o vício. Esse cara, tudo que ele precisa fazer é tomar a pílula azul e... bang. Ele se torna alguém. Ele não é mais um cara normal, agora ele é Neo. Um clique é tudo que ele precisa para chegar em Pasárgada, tudo que ele precisa para ter a mulher que quiser e ser amigo do rei.

Agora aquilo é a realidade dele. Muito melhor que a outra realidade, aquela fora do teclado. O problema é quando aquela realidade de dentro do teclado se torna mais real que a realidade de fora. Inception (A Origem, eu sei, péssima tradução). Um sonho. No sonho você pode fazer o que quiser, ser quem quiser. Ótimo filme. A cena mais interessante é quando Eames (Tom Hardy) e Cobb (Leonardo DiCaprio) chegam em um lugar em que pessoas estão viciadas em sonhos. Eames pergunta para o cara que cuida das pessoas se elas foram lá para dormir. E ele responde: “Não, elas vieram aqui para acordar. O sonho se tornou sua realidade. Quem é você para dizer o contrário?” E é justamente aí que está o problema, quando a pílula azul se torna tão mais interessante que a vermelha. Não importa qual seja a sua pílula azul. E é exatamente esse o desejo de Cypher (Joe Pantoliano), em Matrix. Ele está cansado de comer a mesma gororoba todo dia. Mesmo sabendo que aquele bife não é real, é o que ele quer. “Ignorância é uma benção”. Dar um /afk na vida, uma fugida, não... melhor... uma escapada. Talvez nos importemos demais com essa realidade que nem sabemos se é realmente real (tudo bem, vou parar com os trocadilhos... pelo menos por agora). 

Contudo, o curta-metragem não é sobre dormir. É sobre acordar. Sobre tomar a pílula vermelha, não a azul. Como em Vanilla Sky, remake do filme espanhol Abre los Ojos e uma das pouquíssimas refilmagens que eu acredito conseguir superar o original. Como diz David (Tom Cruise): “eu quero viver uma vida real, não quero mais sonhar”. /afk é exatamente sobre isso. Acordar. Mas um pouco mais acima vimos que a idéia de acordar não é tão simples assim, não é? Ah, Morfeu, você nunca deixa nada fácil. Mas não teria graça se fosse fácil, teria? Como diz Woody Allen: “A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife”. Cypher discordaria. Bem, eu também, um pouco. /afk. Ou não.

3 comentários:

  1. Man! Muito bom mesmo o texto! Este filme do peão, o Inception, é simplesmente brutal sobre o tema!

  1. Tem o AVATAR também! iuhaiuhaiu
    E tem nosso querido DIREITO!

  1. Lembrei de outro: "almas À venda"! É muitooo bom!

Nota

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