The Troll Hunter e os filmes em primeira pessoa
Posted: domingo, 20 de fevereiro de 2011 by Victor Carvalho in Mesas: Fantasia, Filmes, Suspense, Terror, Trash
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Os vizinhos nórdicos lá do frio norte europeu tem produzido bons filmes ultimamente. Entre eles se destaca a Suécia, que mostrou que de amarelo só tem a bandeira e a camisa da seleção. Let The Right One In (Deixe Ela Entrar), agora com remake norte-americano (Let Me In), é um dos melhores filmes de vampiros que eu já vi. Por sinal, qual o problema dos americanos com remakes? Eles se acham tão superiores que um filme sueco não pode ser bom em si mesmo? Ou eles são apenas tão burros que não conseguem ler uma legenda e acompanhar o filme ao mesmo tempo? Poucas vezes eu vi um remake norte-americano superar o filme original. Como eu já havia dito antes, Vanilla Sky é uma exceção. Let Me In é muito parecido com o original, mas peca em vários pontos. O filme é mais “enburrecido”. O sueco deixa umas perguntas no ar, o remake responde demais. Eu já falei aqui o quanto perguntas são importantes. Shyamalan sabia disso nos seus primeiros filmes. Let Me In é um bom filme, mas o sueco é superior. Ainda nos filmes suecos, temos um dos melhores épicos que eu já assisti: Arn. Os dois filmes são sensacionais. A trilogia Millenium também é um ótimo suspense policial. Mas os suecos não são os únicos. Seus vizinhos finlandeses também estão trabalhando certo: Rare Exports é o melhor filme de natal que eu já vi. Dessa forma, os noruegueses não podiam ficar pra trás e mostraram que eles não sabem apenas fazer belas torcedoras na Copa do Mundo. Então eles trouxeram um dos filmes mais divertidos do ano: The Troll Hunter (O Caçador de Trolls). Ou no título original: Trolljegeren.
The Troll Hunter é um daqueles filmes em primeira pessoa. Assim como eu me sentia o Bruce Willis em Duro de Matar (Die Hard) quando jogava Doom e Duke Nukem na época em que eu sabia as músicas do Trem da Alegria de cor, filmes em primeira pessoa fazem eu ficar muito mais envolvido com a trama. A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project) me faz ter pesadelos com aqueles bonequinhos de madeira até hoje. Assistir Atividade Paranormal (Paranormal Activity) no cinema me marcou pelo resto da vida: minha namorada apertou meu braço tão forte que ele ainda dói. Toda vez em que eu vejo uma idosa obesa de camisola (para ser politicamente correto e não falar “velha gorda”) em algum filme (não, eu nunca vi uma velha gorda de camisola na vida real e nem pretendo ver), eu acho que ela vai correr em direção à câmera, como em REC. Cloverfield é meu filme-catástrofe favorito e o subestimado The Last Exorcism (O Último Exorcismo) assentou meu medo de camisolas brancas. Sério, qual o problema dos filmes de terror com camisolas brancas? Camisolas brancas e bonecas são os dois elementos mais assustadores em qualquer filme do gênero.
Esse tipo de filme, conhecido como mockumentary, se encaixa perfeitamente com o gênero suspense/terror. A história parece mais real. Você raramente vê o monstro inteiro, só partes dele. Ou pior, você quase nunca vê o que, de fato, está te assustando. Sempre tem algo no escuro. Um vulto. Sons estranhos, gritos. E a clássica câmera que filma em verde, quando não se pode ver nada por causa da escuridão. Ah, e o melhor: a fita sempre é achada em algum lugar. Nunca é entregada por um sobrevivente ou algo do tipo. Os divertidos clichês do gênero. The Troll Hunter dança com isso tudo. Na verdade, ele faz com esse tipo de filme o que 500 Days of Summer (500 Dias Com Ela) fez com os filmes de comédia romântica. A trama do filme é muito parecida com A Bruxa de Blair, mas com um toque de Cloverfield. Um grupo de estudantes quer fazer um documentário sobre um misterioso caçador de ursos, mas descobre que ele em verdade é um caçador de Trolls. Quem já viu O Senhor dos Anéis sabe que Trolls não são criaturas nem um pouco simpáticas.
O interessante é que o filme não se leva a sério em momento algum. Na verdade, desde a premissa você já vê que o filme não vai se levar a sério. Ele tem muitos elementos do trash, em principal, a veia cômica. Por sinal, alguns atores dos filmes são conhecidos comediantes noruegueses. É impressionante como você dá risada e se assusta ao mesmo tempo. Ele brinca com tudo: com a lenda dos Trolls, com o estilo de filme, com os clichês... Com certeza é um dos melhores filmes do ano passado. Espero que os norte-americanos não resolvam fazer um remake com estudantes de Yale que resolveram investigar ursos na Noruega... Sabe, no fim eu fiquei pensando: um filme nesse estilo sobre a Curupira até que não seria uma má idéia...